Minhas Copas do Mundo (Parte III): 2018

Bruno Pessa
11 min readDec 18, 2018

--

(observação: esse macropost continua a saga de relatos, sempre verídicos, com minhas visões sobre os Mundiais de seleções que vivi. Chamo de parte 3 porque a primeira trata das Copas de 1990 a 2006clique aqui para abrir — e a segunda das de 2010 e 2014 clique aqui para abrir)

Cheguei ao mundial russo (só no tempo, no espaço não ☹) trabalhando na mesma agência de comunicação onde estava na Copa anterior. Mas o endereço era diferente, e meu posto agora era numa salona cheia de colegas e uma TV com canais abertos e pacote por assinatura básico — o que não havia antes. Ou seja, agora tinha tudo para ter Copa mesmo durante os jogos que aconteceriam durante o expediente corporativo. Tinha…

Decoração típica de período de Copa na zona sul de SP

A abertura aconteceu numa quinta-feira, 14 de junho, movimentando os coleguinhas de andar, assim como a goleada russa sobre os sauditas — até porque não se esperava um 5 a 0 assim logo de cara. Com a TV nas minhas costas, eu preferia sintonizar as transmissões que conseguia acompanhar via Internet no PC e plugar um fone de ouvido. Quando travava, ia pra TV do celular, independente de internet.

Dia seguinte fui buscar o carro na revisão, antes do trabalho, e no rádio do Uno branco (minha segunda Copa com ele) ouvi os primeiros minutos de Uruguai x Egito. As partidas na Rússia rolavam de manhã, na transição manhã-tarde e a de fundo começando para nós às 15h, no mais tardar 16h (em função das 6h de fuso para quase todas as cidades-sede).

Marrocos x Irã vi o começo na agência e a maior parte durante o almoço numa hamburgueria, afinal era sexta-feira. Em seguida, o grande Portugal 3 x 3 Espanha representou o primeiro jogaço do torneio, rendendo altas emoções na agência. O melhor viria no primeiro sábado da competição. Porque se tem uma coisa melhor do que Copa, são os dias de Copa em que vc não precisa trampar! E neste dia teríamos 4 partidas em 4 horários diferentes, permitindo acompanhar uma de cada vez, um dia único na programação copeira.

Bora trabalhar no que interessa então! Pus o despertador antes das 7h pra não perder nenhum minuto de França x Austrália, afinal os Bleus têm meu carinho já não é de hoje (quem leu o post das Copas de 2010 e 2014 bem o sabe!). Paralelamente à TV ligada comecei a resenha com os grupos Podecasteiros du Foot e Brasil Lyonnais no WhatsApp. O primeiro reúne os jornalistas que se encontraram na Internet por acompanhar e postar sobre futebol francês, compondo uma equipe que periodicamente grava podcasts sobre esse tema, desde 2012 (é o Le Podcast du Foot, clique aqui para saber mais). Particularmente, como me afastei desse acompanhamento, não tenho gravado mais (com exceção de uma vez neste ano, justamente durante a Copa, tá mais abaixo nesse post!). Mas sigo as conversas do grupo e interajo eventualmente. O BrasiLyonnais foi criado pelo colega Filipe Papini, aliás um dos podecasteiros citados linha acima, reunindo uma comunidade aberta de torcedores e seguidores do Lyon, um dos principais clubes de futebol franceses, aproveitando o nome de seu pioneiro blog.

Story que fiz no Instagram mostrando a rua de trás do prédio, pintada com motivos copísticos

Depois da estreia gaulesa, ajeitei a lavada do carro, no bairro, pra aproveitar as maiores partes de Argentina x Islândia e Peru x Dinamarca. A derradeira partida do movimentado dia eu acompanharia no Cursinho Popular Laudelina de Campos Melo, onde milito na equipe da coordenação. Mas o sinal da TVzinha do celular penou pra ser captado ali na região do vestíbulo (a popular recepção) da EE Alcântara Machado. O que deu, acompanhei, em tempo real, Nigéria x Croácia.

Aliás, aproveitamos o ensejo copense para promover o I #bolauds da história do Lauds. Apostamos para os três jogos brasileiros da primeira fase, de leve. Aliás parte 2, como eu palpitei nessa Copa hein! Bolão no cursinho, bolão de amigos, bolão da firma, bolão da firma da irmã (!!!)*, bolão de fornecedor da agência, bolão de aplicativo de celular. Pergunta quantos eu ganhei ou pelo menos fiquei entre os vencedores… (O fiasco alemão quebrou minhas pernas e braços nos bolões em geral)

em 2014 Lili pediu meu help nas apostas do bolão que envolvia colegas de trabalho. Ela foi na minha e ficamos entre os campeões!

Foi uma Copa em que reconheci colegas de profissão na cobertura, como Francisco Di Laurentiis (ESPN) e Leonardo Hamawaki (SporTV)

Primeiro domingo com Copa e por mais que a Copa te chame às 9h, o sono domingado é brabo. Por isso que o primeiro tempo de Costa Rica x Sérvia, sonado, “acompanhei” de olhos fechados com a TV do celular ligada. Acabado o jogo, pelo grupo do Brasil, me aprumei e rumei pro “Condado do Guacuri”, afinal era dia de Brasil e antes ainda tinha a Lemanha.

Quando cheguei à casa da namorada, já rolava Alemanha x México e nos apertamos no sofá: Eliakim, Tamyris, Amandinha e eu, todos uniformizados de brasileiros. Torcida claramente antigermânica. Obviamente foi uma explosão quando os mexicanos abriram o placar! A casa taha bem decorada de verde e amarelo (fotos abaixo), dando uma esquentada no clima, pois o dia tava frio.

A sala dos Alves Alves no clima brasuca. E dia de seleção na Copa é dia de Olodum na Globo, claro

No fim das contas, só saímos de casa pra gritar nos gols do México e do Brasil. Mas como só o primeiro ganhou, após a jornada ficou um sentimento xoxo. Lembrando que, quando as partidas terminavam, eu não dava um tempo da Copa. Jornalista ligado na cobertura esportiva, assistia várias resenhas na televisão até a hora de dormir (canais pagos sobretudo, mais o Central da Copa na Globo, que ia gravando pra assistir na manhã seguinte porque passa muito tarde pro meu sono durante a semana).

A semana seguinte começou com um baque: TV proibida na agência para a Copa com exceção das partidas do Brasil, após as exaltações de sexta-feira. Quantos jogos brasileiros foram acompanhados lá dentro? Nenhum… Agora além do bolão, o acompanhamento copístico corporativo também teria de ser clandestino.

Cerginho da Pereira Nunes (Caíto Manier) e Craque Daniel (Daniel Furlan)

Uma outra tônica do saudoso período do Mundial foram os vídeos do Falha de Cobertura, programa em tom de resenha humorística youtúbica, no canal da TV Quase, com uma dupla vinda do quarteto do Choque de Cultura, cult da Internet marota nos idos de 2017 pra 2018.

Apesar do empate contra a Suíça na estreia, resolvi apostar na camisa azul, o segundo uniforme da seleção brasileira, para todos os compromissos do time de Tite na Rússia. Ganhei de Lili no aniversário, dias antes. A camisa amarela, modelo 2014 e novidade 4 anos antes (aparece em foto do post daquela Copa), emprestei prAmandinha durante o Mundial.

Parêntese: a camisa amarelo canarinho caiu no desgosto de muitos opositores às manifestações contra a corrupção, o governo Dilma, Lula e o PT que eclodiram em 2015 e 16, pela apropriação indevida, como se quem portasse tais bandeiras se colocasse “a favor do Brasil” e quem vestisse vermelho e outras cores, contra. Mas não vou aposentar minha amarelinha versão 14 por causa disso. O que a seleção construiu e representa é muito maior do que aquele movimento coxinhístico de direita.

Beatriz foi a mascote oficial da Famiglia Pessa durante o Mundial!

Durante o expediente, era difícil se concentrar no trabalho concorrendo com os sons externos em função da Copa — como torcedores e vendedores ambulantes fazendo barulho em horário comercial com cornetas e apitos e gritos de gol contra adversários históricos (tal qual o 1 a 0 da Croácia na Argentina às 16h10 de uma quinta-feira). Aliás, como nos divertimos no final de Argentina 0 x 3 Croácia! Me vi cantando novamente uma canção responsiva que torcedores brasucas criaram em reação à música entoada incessantemente pelos argentinos no furor de seu sucesso até a final em 2014.

Essa resposta surgiu em 2014 e foi reavivada em 2018

É justo assinalar que, entoando novas músicas, a torcida brasileira teve na criatividade um ponto alto. Destaco a que evoca os cinco títulos mundiais e as que provocam a Argentina (‘Deci-me como se siente’ — veja vídeo acima — e ‘O Messi Tchau’). Os hermanos quase morreram na prainha da primeira fase, o que seria assaz faz-me-rir. Mas ok, já que passou, mantém o barato de termos mais um grande na etapa decisiva, nos proporcionando por exemplo um ARG x FRA nas oitavas. E a torcida argentina bolou uma música pra chamar de sua na Rússia, também, e como os caras cantam com paixão e empolgação — até eu me vi cantando depois… (começando com “Vamos Argentina / Sabes que jo te quiero / Hoy hay que ganaaar / e ser primero!”)

Pro segundo compromisso brasileiro, marquei com colegas da agência numa lanchonete lá perto, porque 1h30 depois do final do jogo tínhamos que ir pro expediente, e fomos, mesmo breiacos. Não me lembrava de ter começado a tomar cerveja tão cedo num dia! Rolou petisco durante a contenda e um PF pra garantir o almoço e a saciedade nas horas seguintes. O Brasil foi nos irritando e frustrando por não conseguir furar a retranca da Costa Rica, mas no final veio uma suadíssima vitória. Tivemos que tolerar a lanchonete do outro lado da rua com uma transmissão segundos à frente, e a galera egoísta gritando antes nos gols e lances agudos, haja paciência.

Brasil x Costa Rica

Durante o torneio vimos o principal jogador canarinho, Neymar, oscilando entre a adoração e a repulsa. Tem potencial e lances de craque mas cai muito, reclama muito, prende muito a bola, fora a vaidade, o “ame ou odeie”. Foi um grande alvo dos memes, visto que azinternet bombaro durante a Copa - ZapZap, Foicebok, Tuinto, Insta…

Meme com Neymar e o técnico Osório, do México

Pra pegar os jogos das 9h nos fds da primeira fase, tive que apelar para o despertador. Alguns eu assisti meio sonado, na cama, como Inglaterra x Panamá, com fone de ouvido pra não acordar a namorada com isso. Acompanhei com os pais na casa da Li a sequência da rodada de domingo, a 2a pelo grupo H (ela na Zoropa, Lucas em RP, os cachorros por perto).

Aliás assisti ao 3o jogo brasuca com papi e mami, que privilégio, na casa da mana, que aliás tava num país do grupo brasileiro (Suíça)… Diante do friozinho interno, Touché e Amora rondando, fiquei com papai embaixo da coberta, na TV de cima. Torcemos e cornetamos, o Brasil ganhou da Sérvia mas não convenceeeu, sabe. Como havia risco de desclassificação, até que avançar em primeiro do grupo foi lucro. As crianças da vila fizeram uma algazarra normal, e teve televisor na frente da transmissão do meu de novo!

Edição dos amigos podecasteiros após França 1 x 0 Peru teve minha participação!

Sendo assim o próximo desafio nacional, o primeiro eliminatório, seria numa segunda-feira 11h. Primeiro a agência nos disse que não liberaria ninguém pra assistir fora. Depois deixou pra quem quisesse sair, e não houve quem quisesse ficar pra ver o jogo internamente… Juntamos uma galera pra assistir perto do trabalho, onde desse pra comer e beber, afinal 13h30 começava o expediente. Parêntese engraçado: uma turma maior (comigo puxando) foi ao Tony e Thais e outra foi ao Tony Roma’s (entre as 3267 opções de Moema). Na opção mais popular foi bem divertido! Até porque, depois de alguma dificuldade, achamos os caminhos do gol contra os mexicanos e seguimos vivos na competição.

O mascote da seleção, o canarinho da CBF, virou Canarinho Pistola no Mundial, pelo expressão aguerrida no olhar. Ganhou a simpatia da torcida, que concentrou a festa na concentração brasileira em Sochi.

Na ADS, com a coleguinha Fernanda Ravagi, que torcia para o Uruguai

Ficou pra sexta-feira de tarde Brasil x Bélgica, quartas-de-final, amigo! Justamente o dia que eu taha saindo de férias, então o dia não estava perdido, independentemente do resultado em Kazan. Trabalhamos das 9 às 13h. De manhã aliás já fiquei contente porque a França bateu o Uruguai (vide foto ao lado), se credenciando a ser o futuro adversário de brasileiros ou belgas.

Reencontrei Lisandra e Lucas, depois de pegar trânsito pesado. Enfim veríamos um jogo brasileiro juntos, e o cenário escolhido foi um bar perto da casa deles. Até que comemos ótimos espetinhos, alguma coisa de positivo na jornada do bar Malagueta. Apesar da grande expectativa, clima de empurra seleção e que tais, a galera que lotou o estabelecimento não viu o resultado que desejávamos. A Bélgica foi mais eficiente e fui pra casa com o sonho do hexacampeonato novamente postergado. Porém, ainda tinha duas semanas de dias livres pela frente, e a reta final do Mundial pra curtir.

A camisa azul Brasil 2018 foi um amuleto temporário. Seria o cachecol da França um definitivo?

Torcedor pé quente

Para as semifinais e finais, eu não estava mais em São Paulo, pois fora com Amandinha para gozarmos parte das férias em Ribeirão Preto, com os pais. Numa terça-feira de tarde acompanhamos França x Bélgica no apartamento dos pais. Dando preferência a novos campeões, a namorada preferia que os belgas fossem à decisão. Não escondi, novamente, minha torcida para os Bleus, e novamente saí satisfeito depois do 1 a 0.

O dia seguinte revelaria o segundo finalista, entre Inglaterra e Croácia. Mas só de tarde. Antes, de manhã, fomos testemunhas do protocolo de entrada no casamento civil entre Lisandra e Lucas no 1o Cartório de Ribeirão Preto. Muita coisa acontece no período de Copa, além da Copa! (a conclusão do matrimônio civil foi quase um mês depois, em 10 de agosto. No dia seguinte, nos reunimos em RP para celebrar as bodas!)

Chamei o amigo Alex — com simpatia pelo English Team — para acompanharmos a semifinal derradeira, na padaria Bella Cittá. Porém, a Inglaterra não conseguiu superar os determinados croatas, depois de um jogo de muitas variantes e emoções.

Enquanto a França descansava para a final, fui passar um dia em Franca, com Mandy. A campeã de 1998 chegaria à decisão com mais tempo de descanso que a Croácia, que teria de buscar seu primeiro título depois de acumular prorrogações e disputas por pênaltis.

Bastidores dos últimos momentos de Copa do Mundo em Ribeirão Preto (vai, Japão!)

No domingão, fui minoria na torcida francesa na final, afinal a surpresa croata despertou mais simpatia na maioria dos brasileiros. E vibrei com o resultado que coroou a jovem geração bleu. No fim todos saímos pra almoçar vestindo predominantemente o azul dos campeões do mundo. Não foi um restaurante francês, mas um belo árabe em um dos shoppings de Ribeirão. Saudades de mais uma bela Copa do Mundo, como foi essa da Rússia!

--

--

Bruno Pessa
Bruno Pessa

Written by Bruno Pessa

Jornalista, doutorando em Comunic. Social, especialista em Jorn. Literário, youtuber de araque e outros quetais. Mais: naotevejeito.blogspot.com

No responses yet